segunda-feira, 18 de julho de 2011

o salto na imensidão

havia aprendido, anos atrás, nas aulas de redação de um colégio chato e sem graça, onde éramos todos obrigados a fazer coisas que não queríamos fazer, que todo enredo tem um começo, um meio e um fim. engraçado é perceber que a vida também é assim, mesmo que nunca nos lembremos de seu começo.
hoje, ao olhar para a porta de casa, não entendia muito bem se queria sair ou ficar. estava congelando, sem vontade de viver nem respirar qualquer perfume de jasmim, quando voltasse do trabalho tarde da noite. há uma árvore que só exala a partir das 18 horas, como se a lua fosse parte do seu odor.
olhava para os pés, e estes a lembravam do caminho que fazia todo final de semana até o ponto de ônibus e do ponto de ônibus até a casa dele. em alguns momentos de desespero, pensou em amputá-los, tal era a dor que aquelas lembranças lhe traziam, um formigamento quase alérgico.
saiu. e o vento arrancou de seus cabelos o número do celular que já passeava nas mãos. era tempo de apagar todas as ligações, mensagens e choros (porque também choram as palavras). engoliu a saliva e sentiu um gosto quente descer pela garganta: o sal das ondas presas. 
tinha a bolsa junto ao peito, como se precisasse se agarrar a alguma coisa: um pano, um cheiro, um soluço. o rumo seguia, não há trabalho que espere a nossa dor passar. a não ser quando um familiar morre, nos dão alguns dias, como se fosse o suficiente para curar a falta. mas não há sequer um minuto para um coração partido. 
lembrou da dureza das palavras de gabriel garcia marquez e também sentiu cólera. uma cólera doente, suor, frio, tempestades. será que sobrava um tempo para passar na igrejinha? queria o silêncio, as imagens de salvação, o amor de deus. precisava passar lá, não iria conseguir ficar no trabalho sem chorar... tinha que descarregar e enterrar de uma vez  por todas aquelas malditas imagens.
não ia mais se casar, como tantas vezes pensou que iria. isso é uma espécie de castigo? é possível o amor acabar? o amor é como uma bebida de carnaval, como um cigarro de padaria? envelhece, assim como a vida, o amor? faz parte de uma redação de escola? é o amor alguns rabiscos indefinidos, uma passagem a limpo e, depois de fechado o caderno e arquivada a prova, se esvai? e isso importa, agora?
a realidade se comprova sem questionamentos. o que fica disso tudo não são sequer respostas, mas dúvidas e bagunça. 

chorava em cores: cada sorriso, flor, abraço, beijo e segredo saía de si para o mundo. não havia pontos finais possíveis, quando o acabado ainda é incompleto. o que resta é uma espera. um sentar de leve num balanço, até ter a coragem de saltar do alto, fingir que voa e se machucar no chão de areia novamente. 


para minhas amigas, lygia e dandara. 


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