a incompreensão é de novo o signo mãe. estou cansada de repetir as notas do piano incansavelmente, de dançar um tango argentino na sua frente, de quase implorar com os olhos cheios de lágrima. acho que, no final das contas, não adianta. sempre fazemos o que queremos fazer e fingimos que adotamos o outro, dando uma ou outra concessão, mas sempre tudo igual.
sabe, eu poderia ter uma faca no pescoço agora, que você viria com os mesmos argumentos sérios e sóbrios sobre o que devo e o que não devo fazer. já estaria sangrando, e você continuaria falando, negando-se a se sujar com o pouco de sangue escorrendo. eu não imaginava o amor dessa forma. se é que isso é amor... continuar, apesar da dor do outro, o que machuca, porque é moralmente mais certo ou individualmente mais agradável.
eu acho que não quero essa angústia, um 'être seul dans ce domaine'. queria um abraço longo, daqueles que podem durar anos, um passar de mão nos olhos, no corpo, nos lábios, uns dizeres calmos e compreensíveis. não é o momento de me falar sobre como eu deveria me comportar agora. porque, sabe qual é a verdade? eu estou assim. e há algumas possibilidades para eu deixar de estar. na verdade, duas: uma com você e outra sem você. a segunda, eu posso garantir, é bem mais fácil.
chance atrás de chance. ainda não descobri para que tantas.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
domingo, 25 de setembro de 2011
sea me
comprei um baú na loja de achados e perdidos.
(devagar pela orla de copacabana, deixava os pensamentos nadarem pelo corpo até o mundo, numa dança envolta de velhice e esgotamento. o mar estava frenético, como se quisesse me puxar, levar consigo tudo que ainda me resta na vida e mais um pouco do suor que contenho guardado em mim. não conseguiu, continuou em sua ressaca solitária, desviei os olhos para lugar nenhum)
cheguei em casa com a felicidade morna, pronta para fazer o que deveria ser feito há muito tempo. era do que eu precisava, quase uma obrigação obstinada, uma via de mão dupla. era a hora de escolher a mão (se houvesse realmente alguma) e apertá-la com força, pedir ajuda, implorar, chorar com orgulho. por favor, preciso acelerar sem bater, sem causar acidentes, sem assassinar essas partes e colagens que me tomam pra si sem perguntar se eu permito.
coloquei o baú na cama, afofado e com carinho. ele seria minha salvação. fui tomar banho, era preciso estar limpa, purificada. o que eu faria era quase um ritual, talvez até mesmo um rito daqueles onde as pessoas saem de si e depois voltam sabendo muito mais sobre a vida. pois é isso que eu quero: tomar a vida num gole só. casar-me com ela sem possibilidade de divórcio.
imagina uma coisa dessas? divorciar-se da vida? não. eu seria amada e desejada por ela, era esse o momento de tê-la, não poderia mais suportar a separação ou traição. porque a vida trai e engana. talvez anos depois você descubra a mentira e acorde de uma partitura em que as únicas notas eram o silêncio.
finalmente, era chegado o momento. sentei-me de frente para o baú e coloquei as mãos sobre ele. aquilo representava um tiro no escuro, a única chance de acabar com tudo, finalmente! ele se transformaria na minha caixa de pandora. depois arranjaria um jeito de me livrar dele, de dar um sumiço, ninguém poderia desconfiar.
fiquei horas ali parada. falando, escrevendo, cuspindo. contei-lhe tudo. desde a primeira lágrima até os dias em desespero, as sucatas que eu guardava como jóias, o lixo no apartamento, o sapato sem cadarços esquecido atrás da porta, os livros não lidos até o final, "a vida que poderia ter sido e não foi". recitei alguns versos de coisas que me faziam chorar, joguei ali dentro cartas, fotografias e até mesmo um esmalte vermelho. inspirei e expirei todo ar que podia.
depois, aliviada, com os óculos de sol cobrindo o rosto, mal conseguindo segurar o baú, levei-o para onde deveria ser levado. ele estaria no único lugar onde era pra estar. joguei-o na praia de copacabana, e finalmente o mar conseguiu tudo que queria de mim.
até agora não sei como consegui carregar aquele peso por tanto tempo. isso não é mais da minha conta, o mar que trate de chorar sozinho.
(devagar pela orla de copacabana, deixava os pensamentos nadarem pelo corpo até o mundo, numa dança envolta de velhice e esgotamento. o mar estava frenético, como se quisesse me puxar, levar consigo tudo que ainda me resta na vida e mais um pouco do suor que contenho guardado em mim. não conseguiu, continuou em sua ressaca solitária, desviei os olhos para lugar nenhum)
cheguei em casa com a felicidade morna, pronta para fazer o que deveria ser feito há muito tempo. era do que eu precisava, quase uma obrigação obstinada, uma via de mão dupla. era a hora de escolher a mão (se houvesse realmente alguma) e apertá-la com força, pedir ajuda, implorar, chorar com orgulho. por favor, preciso acelerar sem bater, sem causar acidentes, sem assassinar essas partes e colagens que me tomam pra si sem perguntar se eu permito.
coloquei o baú na cama, afofado e com carinho. ele seria minha salvação. fui tomar banho, era preciso estar limpa, purificada. o que eu faria era quase um ritual, talvez até mesmo um rito daqueles onde as pessoas saem de si e depois voltam sabendo muito mais sobre a vida. pois é isso que eu quero: tomar a vida num gole só. casar-me com ela sem possibilidade de divórcio.
imagina uma coisa dessas? divorciar-se da vida? não. eu seria amada e desejada por ela, era esse o momento de tê-la, não poderia mais suportar a separação ou traição. porque a vida trai e engana. talvez anos depois você descubra a mentira e acorde de uma partitura em que as únicas notas eram o silêncio.
finalmente, era chegado o momento. sentei-me de frente para o baú e coloquei as mãos sobre ele. aquilo representava um tiro no escuro, a única chance de acabar com tudo, finalmente! ele se transformaria na minha caixa de pandora. depois arranjaria um jeito de me livrar dele, de dar um sumiço, ninguém poderia desconfiar.
fiquei horas ali parada. falando, escrevendo, cuspindo. contei-lhe tudo. desde a primeira lágrima até os dias em desespero, as sucatas que eu guardava como jóias, o lixo no apartamento, o sapato sem cadarços esquecido atrás da porta, os livros não lidos até o final, "a vida que poderia ter sido e não foi". recitei alguns versos de coisas que me faziam chorar, joguei ali dentro cartas, fotografias e até mesmo um esmalte vermelho. inspirei e expirei todo ar que podia.
depois, aliviada, com os óculos de sol cobrindo o rosto, mal conseguindo segurar o baú, levei-o para onde deveria ser levado. ele estaria no único lugar onde era pra estar. joguei-o na praia de copacabana, e finalmente o mar conseguiu tudo que queria de mim.
até agora não sei como consegui carregar aquele peso por tanto tempo. isso não é mais da minha conta, o mar que trate de chorar sozinho.
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