voltei para este canto com a esperança de que uma canção me salve do fundo do mar. é como uma cotovia que vem, encosta a ponta das asas no corpo das ondas, apanha apenas um pouco do sal e sai voando para o por do sol. não deixa vestígios. é cruel. não larga sequer o sopro que seus lábios podem produzir de mais belo.
isso passa? digo que não. não é tempo de fruta, nem de uva fresca, daquelas docinhas, verdes, que dão água na boca... não é tempo de nada. é o sol sendo tampado pelos muros do quarto que oprime a íris querendo sair. querendo? quer alguma coisa? há alguma faísca de vontade, de saudade, de meu deus me dê penitência? não é. é tempo de relógio quebrado, da idade sendo enrugada pelas horas anos séculos.
preciso de uma mão para agarrar! poderia ser um lenço, o que quer que seja, uma carta de suicídio, um bilhete de adeus, um post-it dizendo que ainda há. olhando para frente, só consigo olhar para trás.
acho que preciso de um carnaval antigo em que haja palhaços e bailarinas verdadeiros. palhaços para que eu possa desmaiar de rir (e não precise de tantos remédios para dormir) e bailarinas para que eu possa dançar e girar (e assim não use pílulas para escapar tanto da realidade que me chicoteia).
a solução seria vomitar? acordar na hora certa? ter uma rotina normal? andar de bicicleta? ler um livro? ver um filme do woody e sorrir um bocadinho? fazer uma trilha e ver uma luz brilhante no final? ter um contato legal com o arpoador? stop smoking? lavar minha roupa e pintar meu cabelo?
comprei minhas passagens. quem me conhece, sabe para onde.